sábado, 26 de maio de 2012

O ESTADO DAS UNIVERISDADES

Por: Belarmino Van-Dúnem

O número de instituições universitárias não para crescer em Angola. O sistema de ensino superior foi expandido para as 18 províncias. Tanto com instituições públicas como privadas. Claro que esses números não seriam significantivos se não estivéssemos a falar de um país que há dez anos atrás tinha apenas duas ou três instituições de ensino superior. Portanto a estratégia de expansão do ensino superior e da universidade em Angola tem sido bem sucedida.

Mas a fundação da Universidade abre caminho para um legue complexo de interrogações que dificilmente encontramos resposta. Há uma diferença clara entre o ensino superior e a Universidade, embora na maior parte dos casos essa diferença não sobressaía por défice das instituições universitárias.  

O ensino superior está acima de todos outros tipos ou formas de ensino. Não existe nenhum outro ensino que o super o ensino superior, porque o seu saber advêm de si próprio. Embora a característica principal do ensino superior seja a sua profissionalização, ou seja, o indivíduo fica habilitado a exercer superiormente a profissão da área ou sector que frequentou.

O ensino universitário diferencia-se do ensino superior porque na sua essência está a investigação. A investigação está presente em qualquer área de formação do ensino universitário. Enquanto o ensino superior tem uma relação íntima com o mercado, porque a finalidade essencial é o de fornecer quadros capazes de desempenhar as suas funções cabalmente.

O ensino universitário ensina-se fazendo, é um conhecimento em constante mutação, em construção. Os Docentes da universidade apresentam às suas áreas do saber com todas as insuficiências e dúvidas que a mesma acarreta. A investigação na universidade é livre, interrogativa e metódica sem compromissos com os dogmas reinantes. A diferença entre a investigação universitária e outros tipos de investigação, como a industrial ou a militar, é que ela não é secreta, está aberta à sociedade e a sua execução encerra também o erro, errar é normal e até pode-se afirmar a sua execução não depende do sucesso ou fracasso final.

A universidade também conserva o saber, os traços de uma determinada cultura, as características mais imperceptíveis de uma sociedade, não pela utilidade prática, mas pelo facto de constituírem parte do património da humanidade e como tal deve ser preservado. Neste sentido a epistemologia, a estética, a antropologia e, em fim, a filosofia são disciplinas fundamentais do ensino universitário. Portanto, o ensino universitário é reflexo e interrogativo. Na universidade não existem verdades absolutas e acabadas, tudo e todos são questionados. Os paradigmas existentes são questionados e repensados.

A excelência da Universidade está na produção de saberes novos, na indagação dos saberes existentes e na proposta para novas vias do saber.

As universidades angolanas devem interrogar as suas próprias culturas, as relações existentes com a cultura ocidental e não só, propondo novas formas para preservar saberes que não ingressariam noutras instituições. Sem desprimor da universidade produzir também saberes com utilidade prática ou imediata para a sociedade. Por outro lado, a universidade é a única instituição onde a critica está institucionalizada. Na universidade a critica é sempre bem-vinda, é protegida e incentivada, todos têm o direito a perguntar (porquê?), mas igualmente o dever de responder!

Os universitários não são ensinados, estudam, na universidade o verbo reconhecer é constante porque parte-se do princípio que o discente já conhece. Na universidade a liberdade de pensamento e a ousadia de fazer indagações são constantemente e solicitadas.

Na actualidade a universidade, na maior parte dos casos, transformou-se num centro de reprodução de saberes, constituem um pronto a servir. As universidades estão presas aos interesses capitalistas, estão transformadas em meios de produção e reprodução de capital. O mercantilismo do conhecimento ganhou corpo efectivo e a relação é feita entre os Professores que desempenham o papel de operários e têm apenas a sua força de trabalho (conhecimento) e os instituidores das universidade que têm o capital (dinheiro) por isso, ditam as regras, inclusive no ramo do saber ou nos processos para a sua administração. Esta relação faz com          que as universidades deixem de cumprir com as suas finalidades, claro que é uma realidade que afecta, inclusive algumas universidades públicas.

Os Professores transformaram-se em reféns dos alunos, são tutelados não pelo seu saber e desempenho, mas pelo seu cumprimentos aos cânones rígidos e unilaterais impostos pelo patronato. A interrogação e mal vista, constitui uma transgressão punível, só a submissão e a aceitação são vistas como salutares. Ninguém ousa pensar ou interrogar.

Há necessidade de refundarmos o conceito de universidade e encaminha-la para a sua essência, “ANÁLISE E PRODUÇÃO DE NOVOS SABERES”. Claro que escrevi estas linhas possuído pelo chamado dilema de Maquiavel: “Aqueles que ousam apresentar novas ideias correm dois ricos: Primeiro, a ignorância dos beneficiários; Segundo, a resistência tenaz daqueles que não querem a mudança”.