terça-feira, 12 de agosto de 2014

US/AFRICA SUMMIT - CIMEIRA ÁFRICA/EUA


Por: Belarmino Van-Dúnem

A cimeira que está a decorrer entre os EUA e África é um encontro onde os dois interlocutores irão abordar questões de interesse mútuo. Mas sem menosprezar a iniciativa e a sua importância esse tipo de encontro começa a incomodar enquanto princípio.
Já existe fórum entre a China/África, União Europeia/África e agora os EUA não querem ficar atrás e criaram esta iniciativa. O que faz refletir é que não existem fóruns idênticos com outras regiões do mundo. O erro de ver o continente africano como um todo homogéneo é muito comum e não é difícil encontrar pessoas a trocar África para se referir à um país específico do continente africano, este tipo de fóruns não ajuda nada para mudar a tendência.
O tema do fórum é sugestivo “Investir na Próxima Geração”. África é o continente que mais tem crescido a par da China na última década, mas ao contrário do gigante asiático que conseguiu uma indústria transformadora, sendo um polo de atração de investimento estrangeiro assinalável. África ainda baseia o seu crescimento na exportação de matéria-prima com um desenvolvimento relativamente lento.
Apesar da existência de uma África múltipla e com dimensões diversificadas em todos os campos e sectores, a União Africa criou uma agenda que será defendida durante a Cimeira com os EUA onde a cooperação será projectada ao nível bilateral, regional e continental. Com essa visão serão analisados os seguintes subtemas na Cimeira: África prospera com base num crescimento inclusivo e num desenvolvimento sustentável; Um continente integrado, unido politicamente e baseado nos ideais do pan-africanismo; Boa governação, Democracia, Respeito pelos direitos humanos, Tolerância, Justiça e Estado de Direito; uma África em paz e em segurança; uma identidade cultural forte, património, valores e Ética comum; Desenvolvimento centrado nas pessoas, aproveitamento do potencial das mulheres e dos jovens; um interveniente e parceiros fortes, unidos e influentes a nível mundial.
Os EUA por seu lado elaboraram um programa que inclui a sociedade civil, líderes do sexo feminino e discussões com os vários responsáveis da administração Obama, incluindo o Secretário de Estado John Kerry e com o próprio Barack Obama que estará com os líderes africanos em duas ocasiões durante o fórum. A primeira será no dia 5 de Agosto em que o casal Obama irá oferecer um pequeno-almoço na Casa Branca para os líderes africanos e a segunda ocasião será no dia 6 de Agosto em que estará em abordagem o tema da cimeira, dividido em três pontos: o primeiro subordinado ao tema do investimento no futuro de África onde será analisado o desenvolvimento sustentável, o crescimento económico, comércio e investimento; o segundo tema, já durante o almoço estará subordinado a paz e estabilidade regional, a preocupação principal é o alcance de soluções duradoras para os conflitos regionais, desafios para a paz e o combate as ameaças transnacionais.
O terceiro e último tema do programa estará subordinado a governação para a próxima geração, o foco principal será sobre os desafios e oportunidades para que o continente africano continue a progredir política e economicamente, dando especial destaque a governação.
 O objectivo é orientar a governação para a prestação de serviço aos cidadãos, atrair o investimento externo e fazer crescer o produto interno bruto, fazendo uma gestão eficientes das ameaças transnacionais e combatendo o fluxo ilegal de capital. Paralelamente a sessão principal a primeira-dama Michelle Obama e a ex-primeira-dama Laura Bush irão presidir um simpósio subordinado ao tema, impacto do investimento na educação, saúde e parcerias público/privadas.
Os temas são pertinentes e fazem parte das preocupações de todos os africanos. Mas a questão que se coloca é se faz sentido abordar essas questões em bloco e se um dia um Estado africano poderá marcar uma cimeira do género.
Os problemas de África para além de terem dimensões diferentes têm origens e soluções que não cabem num pacote único.
Apesar do ceticismo relativamente a eficiência do formato da cimeira é necessário aproveitar o debate e as contribuições dos vários fóruns para adapta-lo à realidade de cada Estado em particular. Se fórum servir para transformar a visão de uma África homogenia e estagnada no dilema da guerra fria já terá cumprido com o objectivo mais premente.